A origem provençal da cantiga d’amor foi declarada pelos próprios trovadores e, nas suas formas e temas mais elaborados,
bem pode reconhecer-se a influência dos modelos. Causas da influência provençal nas
cantigas de amor: as cruzadas (os jograis, acompanhando os senhores feudais a caminho de
Jerusalém, passavam pelo porto de Lisboa); o casamento entre nobres a influência do clero
e suas reformas; a vinda de prelados franceses para bispados na Península Ibérica; a
peregrinação de portugueses a Santa Maria de Rocamador, no sul da França, e de trovadores
dessa região a Santiago de Compostela.
Também a cantiga satírica, em certas formas e temas, convida ao confronto com a poesia
satírica provençal, sobretudo com o sirventés moral ou político.
Há, porém, um género, a cantiga de amigo, que não se explica a partir dos modelos do sul
de França. Para as suas características é necessário encontrar outra fonte. As cantigas de
amigo constituem uma poesia autóctone, de origem popular e carácter tradicional. Esse
ponto de partida foi identificado com uma tradição autóctone, uma forma ibérica de canção
de mulher, anterior à influência provençal.
Temática e metricamente próximas das cantigas de amigo galego-portuguesas,
evidenciando, desse modo, a existência de um fundo comum de lírica românica de que
derivariam ambas as formas
", cultivada pelos poetas andaluzes entre os séculos XI
e XIII, constitui a primeira manifestação literária documentada em língua vulgar.
INTÉRPRETES DA POESIA TROVADORESCA GALEGO-PORTUGUESA:
Jogral: A atividade do jogral desdobrava-se em múltiplas funções que, com o objetivo de recrear
um público, combinavam os jogos histriónicos, o acompanhamento musical, a
interpretação de composições alheias ou próprias, a declamação de narrativas épicas,
etc. A importância do jogral enquanto meio de transmissão cultural, entre comunidades
e entre gerações, deve ser enfatizada tendo em conta o peso da oralidade sobre a escrita
no ocidente medieval.
Menestral: Era, no século XIII, um músico-poeta (por vezes confundia-se com o jogral, só que vivia
sob a proteção de um nobre e andava de corte em corte).
Segrel: Cavaleiro-trovador que andava de corte em corte (era da baixa estirpe e fazia-se
acompanhar de um jogral ou substituía-o). Na poesia trovadoresca galego-portuguesa, a
função do segrel aproxima-se da do jogral, visto que, além de executante e de cantor,
sabia compor cantigas.
Soldadeira ou Jogralesca: Cantadeira ou dançarina, a soldo, que acompanhava o jogral (era, muitas vezes, de moral
duvidosa).
Trovador Compositor:(quase sempre fidalgo) da poesia e da música.
PROCESSOS FORMAIS DE VERSIFICAÇÃO
DA POESIA TROVADORESCA GALEGO-PORTUGUESA
Atafinda: ou atá-finda: Processo poético que consiste em levar o pensamento,
ininterruptamente, até ao fim da cantiga, usando para isso o processo
de encavalgamento na articulação das estrofes.
Cobla, copla, cobra: Estrofe
Coblas alternas: O esquema rimático alterna, segundo o modelo I-III, II-IV.
Coblas capcaudadas: O primeiro verso de uma estrofe retoma a rima do último verso da
estrofe
anterior.
Coblas capdenals: Repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no início do mesmo
verso em estrofes sucessivas (pode incluir a finda).
Coblas capfinidas: O primeiro verso de uma estrofe retoma uma palavra do último verso
da estrofe antecedente (se a cantiga for de refrão, estará no refrão).
Coblas doblas ou
pareadas: O mesmo esquema rimático se repete de duas em duas, segundo o
modelo I-II, III-IV.
Coblas singulares: As rimas mudam de estrofe para estrofe.
Coblas uníssonas: A mesma série de rimas em todas as estrofes.
Dobre: Prova de virtuosismo formal que consistia na repetição vocabular
simétrica em que a palavra repetida poderia estar no início, no interior
ou no final do verso, mas que a disposição escolhida para a primeira
estrofe tinha de ser a mesma em todas as estrofes; e a palavra
repetida podia ser diferente de estrofe para estrofe.
Encavalgamento ou
transporte: Processo poético que consiste em completar a ideia de um verso no
verso seguinte, não coincidindo, portanto, a pausa métrica com a
pausa sintática.
Finda: Estrofe curta (geralmente constituída por três versos) que serve de
remate e em que o poeta sintetiza o assunto da composição.
Leixa-prém: Traduzido à letra: deixa-toma. É o procedimento formal necessário
para a cantiga paralelística perfeita. Consiste no seguinte: o 2º verso
da 1ª estrofe repete-se no 1º verso da estrofe alternada ao longo de
toda a cantiga.
Mozdobre ou mordobre: A definição é feita a partir do dobre: a única distinção é que, no
mozdobre, a palavra repetida aparece em formas diversas (coincide às
vezes com a rima derivada).
Palavra perduda ou verso
perdudo: Verso inserido no corpo da estrofe que não rimava com nenhum dos
outros da mesma estrofe (prova de mestria).
Palavra-rima: Utilização da mesma palavra em posição de rima (confunde-se às
vezes com o dobre).
Paralelismo: O paralelismo constitui uma das características estruturais da lírica
galego-portuguesa, consistindo na repetição simétrica de palavras,
estruturas rítmico-métricas ou conteúdos semânticos.
Paralelismo imperfeito: Acontece quando o esquema do leixa-prém não se repete
rigorosamente.
Paralelismo perfeito ou
puro: Uso do leixa-prém.
Paralelismo semântico
ou conceptual: Repetição de figuras de retórica; repetição, por outras palavras,
daquilo que se disse na primeira estrofe. O paralelismo conceptual
recusa a repetição do leixa-prém ou a simples variação sinonímica.
Paralelismo sintático ou
estrutural: Repetição de uma determinada construção sintática e rítmica. O poeta
podia obter a variação mediante três processos:
- substituição da palavra rimante por um sinónimo;
- transposição das palavras (alteração da ordem);
- repetição do conceito mediante a negação do conceito oposto.
Paralelismo verbal, literal
ou de palavra: Repetição (no mesmo lugar) de palavras, expressões ou versos
inteiros, na cantiga, quer siga ou não o leixa-prém.
Pode ocorrer também o paralelismo verbal com substituição
sinonímica (embora formalmente diferente, é semanticamente igual).
O paralelismo verbal arrasta consigo uma certa monotonia evitada se
recorrerem à variação (que pressupõe uma certa progressão no
pensamento).
Rima derivada:Emprego de formas diversas da mesma palavra em posição de rima
(confunde-se, às vezes, com o mozdobre).
Rima equívoca: Repetir a mesma palavra dando-lhe significações diferentes
(confunde-se às vezes com o dobre).
FONTE: http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/poesia_trovadoresca.pdf
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