quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A poesia trovadoresca galego-portuguesa

  A origem provençal da cantiga d’amor foi declarada pelos próprios trovadores  e, nas suas formas e temas mais elaborados, bem pode reconhecer-se a influência dos modelos. Causas da influência provençal nas cantigas de amor: as cruzadas (os jograis, acompanhando os senhores feudais a caminho de Jerusalém, passavam pelo porto de Lisboa);  o casamento entre nobres  a influência do clero e suas reformas; a vinda de prelados franceses para bispados na Península Ibérica; a peregrinação de portugueses a Santa Maria de Rocamador, no sul da França, e de trovadores dessa região a Santiago de Compostela.

  Também a cantiga satírica, em certas formas e temas, convida ao confronto com a poesia satírica provençal, sobretudo com o sirventés moral ou político. 

  Há, porém, um género, a cantiga de amigo, que não se explica a partir dos modelos do sul de França. Para as suas características é necessário encontrar outra fonte. As cantigas de amigo constituem uma poesia autóctone, de origem popular e carácter tradicional. Esse ponto de partida foi identificado com uma tradição autóctone, uma forma ibérica de canção de mulher, anterior à influência provençal.

  Temática e metricamente próximas das cantigas de amigo galego-portuguesas, evidenciando, desse modo, a existência de um fundo comum de lírica românica de que derivariam ambas as formas
", cultivada pelos poetas andaluzes entre os séculos XI e XIII, constitui a primeira manifestação literária documentada em língua vulgar. 



    INTÉRPRETES DA POESIA TROVADORESCA GALEGO-PORTUGUESA:



Jogral: A atividade do jogral desdobrava-se em múltiplas funções que, com o objetivo de recrear um público, combinavam os jogos histriónicos, o acompanhamento musical, a interpretação de composições alheias ou próprias, a declamação de narrativas épicas, etc. A importância do jogral enquanto meio de transmissão cultural, entre comunidades e entre gerações, deve ser enfatizada tendo em conta o peso da oralidade sobre a escrita no ocidente medieval.



Menestral: Era, no século XIII, um músico-poeta (por vezes confundia-se com o jogral, só que vivia sob a proteção de um nobre e andava de corte em corte).



Segrel: Cavaleiro-trovador que andava de corte em corte (era da baixa estirpe e fazia-se acompanhar de um jogral ou substituía-o). Na poesia trovadoresca galego-portuguesa, a função do segrel aproxima-se da do jogral, visto que, além de executante e de cantor, sabia compor cantigas.



Soldadeira ou Jogralesca: Cantadeira ou dançarina, a soldo, que acompanhava o jogral (era, muitas vezes, de moral duvidosa).



Trovador Compositor:(quase sempre fidalgo) da poesia e da música.






PROCESSOS FORMAIS DE VERSIFICAÇÃO DA POESIA TROVADORESCA GALEGO-PORTUGUESA



Atafinda: ou atá-finda: Processo poético que consiste em levar o pensamento, ininterruptamente, até ao fim da cantiga, usando para isso o processo de encavalgamento na articulação das estrofes. 



Cobla, copla, cobra: Estrofe 



Coblas alternas: O esquema rimático alterna, segundo o modelo I-III, II-IV. 



Coblas capcaudadas: O primeiro verso de uma estrofe retoma a rima do último verso da estrofe 
anterior.




Coblas capdenals: Repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no início do mesmo verso em estrofes sucessivas (pode incluir a finda).



 Coblas capfinidas: O primeiro verso de uma estrofe retoma uma palavra do último verso da estrofe antecedente (se a cantiga for de refrão, estará no refrão). 



Coblas doblas ou pareadas: O mesmo esquema rimático se repete de duas em duas, segundo o modelo I-II, III-IV. 



Coblas singulares: As rimas mudam de estrofe para estrofe. 



Coblas uníssonas: A mesma série de rimas em todas as estrofes. 



Dobre: Prova de virtuosismo formal que consistia na repetição vocabular simétrica em que a palavra repetida poderia estar no início, no interior ou no final do verso, mas que a disposição escolhida para a primeira estrofe tinha de ser a mesma em todas as estrofes; e a palavra repetida podia ser diferente de estrofe para estrofe. 



Encavalgamento ou transporte: Processo poético que consiste em completar a ideia de um verso no verso seguinte, não coincidindo, portanto, a pausa métrica com a pausa sintática. 



Finda: Estrofe curta (geralmente constituída por três versos) que serve de remate e em que o poeta sintetiza o assunto da composição. 


Leixa-prém: Traduzido à letra: deixa-toma. É o procedimento formal necessário para a cantiga paralelística perfeita. Consiste no seguinte: o 2º verso da 1ª estrofe repete-se no 1º verso da estrofe alternada ao longo de toda a cantiga. 



Mozdobre ou mordobre: A definição é feita a partir do dobre: a única distinção é que, no mozdobre, a palavra repetida aparece em formas diversas (coincide às vezes com a rima derivada). 



Palavra perduda ou verso perdudo: Verso inserido no corpo da estrofe que não rimava com nenhum dos outros da mesma estrofe (prova de mestria).



 Palavra-rima: Utilização da mesma palavra em posição de rima (confunde-se às vezes com o dobre). 



Paralelismo: O paralelismo constitui uma das características estruturais da lírica galego-portuguesa, consistindo na repetição simétrica de palavras, estruturas rítmico-métricas ou conteúdos semânticos.



Paralelismo imperfeito: Acontece quando o esquema do leixa-prém não se repete rigorosamente. 



Paralelismo perfeito ou puro: Uso do leixa-prém. 



Paralelismo semântico ou conceptual: Repetição de figuras de retórica; repetição, por outras palavras, daquilo que se disse na primeira estrofe. O paralelismo conceptual recusa a repetição do leixa-prém ou a simples variação sinonímica. 



Paralelismo sintático ou estrutural: Repetição de uma determinada construção sintática e rítmica. O poeta podia obter a variação mediante três processos: - substituição da palavra rimante por um sinónimo; - transposição das palavras (alteração da ordem); - repetição do conceito mediante a negação do conceito oposto. 



Paralelismo verbal, literal ou de palavra: Repetição (no mesmo lugar) de palavras, expressões ou versos inteiros, na cantiga, quer siga ou não o leixa-prém. Pode ocorrer também o paralelismo verbal com substituição sinonímica (embora formalmente diferente, é semanticamente igual). O paralelismo verbal arrasta consigo uma certa monotonia evitada se recorrerem à variação (que pressupõe uma certa progressão no pensamento). 



Rima derivada:Emprego de formas diversas da mesma palavra em posição de rima (confunde-se, às vezes, com o mozdobre).



 Rima equívoca: Repetir a mesma palavra dando-lhe significações diferentes (confunde-se às vezes com o dobre).





FONTE: http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/poesia_trovadoresca.pdf

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