quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Fernão Lopes

Presume-se que tenha nascido por volta de 1380, oriun­do das camadas populares, da arraia-miúda. Essa origem humilde teria inclinado Fernão Lopes a conceber o povo como um dos protagonistas desse imenso drama que é a história de uma Nação.


Aproximou-se da Corte de Avis, ainda no tempo de D. João I, ocupando cargos de confian­ça. Como Tabelião-Geral, tinha a atribuição de lavrar do­cumentos (escrituras, certidões, testamentos) em qualquer parte do reino. Em 1418 foi nomeado Guarda-Mor da Tor­re do Tombo (em linguagem atual, Chefe do Arquivo Ge­ral do Estado). Em 1434 foi promovido por D. Duarte ao cargo de Cronista-Mor do Reino, encarregado de “poer en cronyca as estórias dos Reys que antyguamente en Portugal foran“, ou seja, encarregado de contar a história dos reis de Portugal. Exerceu esse cargo até 1454, quando foi substituído por Gomes Eanes de Zurara (ou Azurara). Pa­rece ter vivido até 1459 ou 1460.

Segundo o seu próprio testemunho e outros documen­tos, Fernão Lopes escreveu as crônicas de todos os reis de Portugal, a partir do conde D. Henrique, inclusive. Entre­tanto, muito do que escreveu ficou definitivamente per­dido ou foi apropriado e retocado pelos seus sucessores no cargo de Cronista-Mor. São de sua autoria três crônicas:
Crônica de El-Rei D. Pedro;
Crônica de El-Rei D. Fernando;
Crônica de El-Rei D. João I
(primeira e segunda par­tes, compreendendo da Revolução de Avis até a expedição a Tânger).

A palavra crônica tem aqui sentido diverso daquele que hoje lhe atribuímos. Na Idade Média, crônica era o nome que se dava à narração dos feitos da nobreza, ou de acontecimentos, dispostos em ordem cronológica, confor­me a sequência linear do tempo. Na época dos Descobri­mentos, os relatos de navegadores e aventureiros denomi­navam-se crônicas de viagem e tinham função informati­va e histórica, noticiando e documentando a Expansão Ul­tramarina. Em sua significação moderna, crônica é um gênero literário definido e designa o texto curto, habi­tualmente publicado na imprensa, às vezes reunido em livro, e que explora, literariamente, por meio do lirismo e/ou do humor, um acontecimento diário, um fato extraí­do do cotidiano. Oscila entre o poema em prosa e o conto, e sua qualidade literária decorre do poder de recriação da realidade por meio da palavra.
Fernão Lopes — o historiador

Apelidado o Heródoto Português, por ter sido o “pai”, o fundador da historiografia portuguesa, Fernão Lopes dis­tingue-se de seus contemporâneos pela imparcialidade, pelo trabalho rigoroso depesquisa e investigação dos fa­tos e documentos, levantados junto ao arquivo da Torre do Tombo, aos cartórios e registros paroquiais, sepulturas etc.

Nesse sentido, antecipa uma concepção moderna de His­tória, que visa ao relato objetivo e sem partidarismos. Antes de Fernão Lopes, os cronistas limitavam-se à idealização dos feitos da nobreza que os patrocinava, restringindo-se ao biografismo e às informações baseadas na tradição oral.

Como funcionário real, dentro do contexto do nascen­te absolutismo, a concepção de História em Fernão Lopes é regiocêntrica, isto é, está centralizada na figura dos reis e dividida em períodos correspondentes aos seus reinados. Contudo, a preocupação maior do historiador não é a exal­tação das virtudes do monarca, nem são os heróis indivi­dualizados. Fernão Lopes buscava uma visão de conjunto da sociedade portuguesa, valorizando as massas popula­res, concebendo o povo como co-agente das mudanças his­tóricas. Além dos fatos políticos, registra a importância dos fatores econômicos na vida dos protagonistas e na evolução dos fatos históricos. Observa, analisa, critica e documenta tanto as intrigas palacianas, quanto a dura vida dos trabalhadores nas aldeias e nas cidades, as festas popu­lares, a decadência da aristocracia, a Revolução de Avis. Sua simpatia pela Nova Geração, a Casa de Avis, não im­pede a crítica aos desmandos da monarquia, nem o faz per­der a noção dos limites humanos do poder real.

Seu espírito crítico, seu conhecimento dos autores da Antiguidade clássica e sua visão da importância do homem como agente da história revelam a aproximação com o es­pírito do Humanismo, que coube a ele introduzir em Portugal. Contemporâneo das primeiras conquistas ultrama­rinas, a morte impediu Fernão Lopes de ser o cronista dos primeiros triunfos marítimos lusitanos no Mar Tenebroso, o que caberia ao seu sucessor, Gomes Eanes de Zurara. Mas coube a Fernão Lopes ter sido o primeiro escritor que sentiu, em toda a sua profundidade e amplitude, o concei­to de Nação e o exprimiu em uma prosa vibrante, repleta de qualidades estilísticas, teatrais e poéticas, muitas vezes próxima da epopeia, e que foi a melhor literatura que se fez em seu tempo, em Portugal.

A pesquisa documental, o espírito crítico, a impar­cialidade, a visão de conjunto, o humanismo e o naciona­lismo resumem as principais qualidades de Fernão Lopes como historiador.
Fernão Lopes — o escritor

As crônicas de Fernão Lopes unem à excelência da concepção histórica a excelência da realização artística. Por isso, interessam também à Literatura.

Expressando-se em um estilo elegante, elaborado, mas sóbrio, sem maneirismos ou afetações, Fernão Lopes é tam­bém o primeiro prosador português de quem se pode di­zer que o estilo identifica o homem. As marcas dessa individualização revelam-se: na expressão vibrante e arrebata­dora, próxima da epopéia; na plasticidade das descrições, que permitem uma visualização palpitante das cenas; na capacidade de prender a atenção do leitor em um suspense contínuo, com ações simultâneas, cortes abruptos na nar­rativa, digressões; na habilidade dos diálogos que confe­rem dramaticidade às ações e revelam qualidades teatrais; na densidade dos retratos psicológicos das personagens que presentificam na imaginação do leitor os vultos históricos do passado; na combinação de feitos individuais e de mo­vimentos de massa na mesma unidade de ação, fazendo convergir acontecimentos múltiplos para um desfecho; no ardor polêmico em que se alternam o tom colérico, indig­nado e o tom irônico, depreciativo; tudo isso revestido de uma linguagem sóbria, cuidada, às vezes próxima do coloquial.


Os sucessores de Fernão Lopes
Gomes Eanes de Zurara sucedeu a Fernão Lopes, em 1454, no cargo de Cronista-Mor do Reino e pretendeu dar seqüência ao projeto de escrever a história de todos os reis portugueses até aquela data. Para tanto, acrescentou à obra de seu predecessor a terceira parte da Crônica de D. João I, também chamada de Crônica da Tomada de Ceu­ta, seu trabalho mais importante e o único que se apro­xima de algumas das qualidades de Fernão Lopes. Histo­riou também a Conquista da Guiné e a vida do Infante D. Henrique, mais voltado para a exaltação dos feitos indi­viduais e para a louvação da nobreza, do que para a visão crítica, afastando-se de Fernão Lopes por preferir a tradi­ção oral à pesquisa documental. Iniciador da historiogra­fia da expansão ultramarina, com a narrativa da Tomada de Ceuta (1415), inaugura uma linha ufanista, comum a toda a literatura de informação quinhentista e que ecoa até em Os Lusíadas. Preocupado com individualidades e não com grupos sociais, orientado por uma visão cavalheires­ca da história e literariamente menos dotado que Fernão Lopes, teve ainda a prejudicá-lo o fato de relatar aconte­cimentos mais ou menos contemporâneos, socorrendo-se principalmente de testemunhos orais. O gosto pelas citações eruditas e a sintaxe latinizante, às vezes rebuscada e artifi-ciosa, revelam a influência da cultura clássica, nem sem­pre bem assimilada.

Rui de Pina foi o quarto Cronista-Mor (o terceiro, Vasco Fernandes de Lucena, nada escreveu em matéria historio-gráfica, apesar de ocupar o cargo por quase trinta anos). De sua autoria exclusiva são a Crônica de D. Afonso V e a Crônica de D. João II, já que suas primeiras obras seriam a refundição do trabalho de outros cronistas, ou estariam calcadas nas crônicas perdidas de Fernão Lopes ou em escritos inacabados de Zurara. Sua obra mais pessoal, ba­seada no conhecimento direto dos fatos e em documentos oficiais, é a Crônica de D. João II, o “Príncipe Perfeito“, dentro da versão oficial dos fatos que esse rei quis impor aos seus contemporâneos. Limitando-se à realeza e à vida da corte, valeu-se de um estilo “burocrático”, de escrivão oficial, às vezes entremeado de algumas páginas comovi­das e literariamente interessantes.

A prosa historiográfica portuguesa continuou a se de­senvolver já fora dos limites da Idade Média e do Huma­nismo. João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda e Damião Góis, no século XVI, serão os grandes historia­dores da expansão marítima e das conquistas portuguesas.

Texto – Crônica de El-Rei D. Pedro

No fragmento que transcrevemos a seguir, Fernão Lopes narra a vingança do Rei D. Pedro I (de Portugal) contra dois dos responsáveis pela condenação de Inês de Castro à morte. Caracteriza psicologicamente o monarca como frio e sanguinário e narra o suplício a que submeteu Álvaro Gonçalves e Pero Coelho. Após torturá-los para que denunciassem os outros implicados na morte de sua amante, mandou que os matassem, fazendo arrancar o co­ração de ambos; do primeiro, pelas costas, do segundo, pelo peito. E enquanto assistia ao suplício de suas vítimas, saboreava um coelho temperado com cebola e vinagre. No parágrafo final, o cronista faz uma digressão histórica, condenando o desrespeito ao direito de asilo político que Portugal e Castela normalmente reconheciam em relação aos refugiados ou perseguidos por razões políticas.



Fonte: http://www.coladaweb.com/literatura/fernao-lopes

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

As cantigas satíricas de escárnio e de maldizer

As cantigas de escárnio

Nessa cantiga, o eu – lírico, faz uma crítica (sátira) indireta e com duplos sentidos a alguém. Para os trovadores fazerem uma cantiga de escárnio, ele precisa compor uma cantiga falando mal de alguém, ou seja, fazendo uma critica a alguma pessoa, através de palavras de duplo sentido, ou seja, através de ambigüidades, trocadilhos e jogos semânticos, através de um processo denominado pelos trovadores equívoco.
Essa cantiga é capaz de estimular a imaginação do autor, sugerindo-lhe uma nova expressão irônica.

Vejamos um exemplo de cantiga de escárnio:

Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!…


As cantigas de Maldizer.

Esse tipo de cantiga, também traz criticas, ou seja sátiras diretas, porém não são acompanhadas de duplos sentidos. É normal que ocorra agressões verbais à pessoa que está sendo criticada, ou seja, satirizada, geralmente usa-se até mesmo palavrões para compor esse tipo de cantiga, onde se revela ou não o nome da pessoa que está sendo agredida verbalmente.


Vejamos um exemplo de cantiga de Maldizer:

Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!…


Fonte: http://www.colegioweb.com.br/trovadorismo/as-cantigas-satiricas-de-escarnio-e-de-maldizer.html#ixzz3trNtSwN3

O código do amor cortês

O  amor cortês trata da relação entre um homem e uma mulher: onde a mulher é uma dama, que também significa que ela é casada e, o homem é um celibatário, que se interessa por ela.
        Tudo começa por um olhar lançado, “é uma flecha que penetra pelos olhos, e crava-se no coração, incendeio-o, traz-lhe o fogo do desejo”. Este homem, então, ferido de amor (no sentido carnal), sonha apoderar-se desta mulher. Essa mulher é muitas vezes esposa de seu próprio senhor, portanto é dona da casa que este freqüenta, ou seja, ela está hierarquicamente acima dele, é seu vassalo. Por ela, deixa de ser livre.
        O amor cortês é um jogo, cujo mestre é o homem. A dama é uma peça fundamental, porém é mulher e não dispõe livremente do seu corpo, que pertenceu, primeiramente a seu pai, agora é de seu esposo. Carrega nele a honra deste esposo, Por esse motivo ela é altamente vigiada.
        Sem privacidade nos castelos, ao menor deslize, esta mulher é acusada, por ser frágil e fraca. É passível dos piores castigos, os quais seu cúmplice corre o risco de recebe-los.
        Neste jogo, o mais excitante eram os perigos, o amor cortês era uma aventura, permeado por códigos secretos, discrição, olhares furtivos e pela ânsia de estarem junto com esta dama “num jardim secreto”.
        Os homens esperam pelos favores que essas damas  podem lhe conceder, e tais favores eram concedidos em etapas: primeiro um abraço, depois ela deixava beijar-se... A espera, que é muito descrita pelos trovadores era uma prova decisiva para se chegar a proximidade carnal. Mas estes homens continham seus ímpetos, pois deveriam manter o controle sobre seu corpo, fazendo com que esta situação se arrastasse indefinidamente. Então, o homem deseja a espera, o seu prazer atinge o clímax neste desejo, tornando o amor cortês onírico, ou seja, um sonho.
        O amor cortês, serviu então, para consolidação da ordem moral, que se fundava em duas virtudes: moderação e amizade.
O cavaleiro deveria dominar-se, controlar suas paixões, principalmente as que tinham apelo carnal. Com este tipo de procedimento, reprimia-se o rapto de donzelas, substituindo tal ato pelo cortejamento, os homens utilizariam-se do ritual “honesto” para conquistar as mulheres.

        A amizade, vinha logo a seguir, porém o seu significado difere do atual. Nesta época “amizade” fazia contraponto com a palavra amor, onde os cavaleiros e vice-versa nomeavam seus alvos como “amigo”.
        Os cavaleiros, decididos a servir esta “amiga”, esqueciam de si próprios, eram fiéis, abnegados ao seu serviço,, em síntese, tornavam-se seus vassalos.
        Nesse sentido, os cavaleiros vinham a reforçar a ética vassálica, que nesta época era o alicerce da política, consolidando assim, o Estado Feudal.
        O exercício deste amor cortês, vinha evidenciar, realçar os valores viris dos cavaleiros. Fazendo com que estes se redobrassem em coragem, e esta coragem era posta à prova nos vários torneios a que participavam. A prática do amor cortês, tornou-se útil, e logo difundiu-se. Construído para agradar  cavaleiros sem esposas, o modelo punha face a face, na sua forma mais antiga, um homem celibatário e uma mulher casada.
        Mas, pelo efeito que a literatura de corte, a da refração de seus temas sobre os comportamento, logo foram abertos espaços à donzelas e aos maridos.
        Então, ao final do século XII, na França Capetíngia, os ritos de cortesia transformaram-se prelúdios ao casamento.



FONTE: http://www.galeon.com/projetochronos/chronosmedieval/tristao/tri_mito.htm

Cantiga de amor

Nas cantigas de amor o homem se refere à sua amada como sendo uma figura idealizada, distante. O poeta fica na posição de fiel vassalo, fica as ordens de sua senhora, dama da corte, onde esse amor é considerado como um objeto de sonho, ou seja, impossível, que está longe.
Esta cantiga teve origem no sul da França, apresentando um eu – lírico é masculino e também sofredor. Nas cantigas de amor o poeta chama sua amada de senhor, pois naquela época, todas as palavras que terminavam com “or”, em galego-português não tinham feminino, portanto ele dizia “minha senhor”, ele cantava a dor de amar, onde está sempre acometido da “coita”. Essa palavra (coita) é muito usada nessas cantigas, ela significa sofrimento por amor.


Fonte: http://www.colegioweb.com.br/trovadorismo/as-cantigas-de-amor.html#ixzz3trLMhDVI

A Cantiga de amigo

Na lírica medieval galego-portuguesa uma cantiga de amigo é uma composição breve e singela posta na voz de uma mulher apaixonada. Devem o seu nome ao facto de que na maior parte delas aparece a palavra amigo, com o sentido de pretendente, amante, esposo.

As cantigas de amigo procedem de uma reelaboração culta da lírica popular anterior. São, portanto, de origem autóctone, a partir do contacto da lírica pré-trovadoresca popular, já reelaborada nas cortes, com a lírica cortesã occitana (a cançó). A primeira contribuiu com o feminismo, o paralelismo e o refrão e a segunda com o formalismo, o esteticismo e a corte.


O tema fundamental é o sofrimento por amo (às vezes, a morte por amor), motivado normalmente pela ausência do "amigo". Às vezes apresentam-se forma em que se engana à mãe vigilante, ou se mostra a alegria no regresso do amigo e outras ciumes ou ansiedade.

A voz poética é de uma jovem que relata as suas vivências amorosas, ora num monologo, ora num dialogo com suas amigas, irmãs ou inclusive com a mãe.






-As personagens que intervêm são: 
-A amiga, que é com frequência a voz poética. 
-A mãe, que representa geralmente o código social proibitivo. 
-Confidentes: a mãe, uma amiga, a irmã, outras noivas, a natureza, etc. 
-O amigo ,frequentemente ausente. 





Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Cantiga_de_Amigo

A poesia trovadoresca galego-portuguesa

  A origem provençal da cantiga d’amor foi declarada pelos próprios trovadores  e, nas suas formas e temas mais elaborados, bem pode reconhecer-se a influência dos modelos. Causas da influência provençal nas cantigas de amor: as cruzadas (os jograis, acompanhando os senhores feudais a caminho de Jerusalém, passavam pelo porto de Lisboa);  o casamento entre nobres  a influência do clero e suas reformas; a vinda de prelados franceses para bispados na Península Ibérica; a peregrinação de portugueses a Santa Maria de Rocamador, no sul da França, e de trovadores dessa região a Santiago de Compostela.

  Também a cantiga satírica, em certas formas e temas, convida ao confronto com a poesia satírica provençal, sobretudo com o sirventés moral ou político. 

  Há, porém, um género, a cantiga de amigo, que não se explica a partir dos modelos do sul de França. Para as suas características é necessário encontrar outra fonte. As cantigas de amigo constituem uma poesia autóctone, de origem popular e carácter tradicional. Esse ponto de partida foi identificado com uma tradição autóctone, uma forma ibérica de canção de mulher, anterior à influência provençal.

  Temática e metricamente próximas das cantigas de amigo galego-portuguesas, evidenciando, desse modo, a existência de um fundo comum de lírica românica de que derivariam ambas as formas
", cultivada pelos poetas andaluzes entre os séculos XI e XIII, constitui a primeira manifestação literária documentada em língua vulgar. 



    INTÉRPRETES DA POESIA TROVADORESCA GALEGO-PORTUGUESA:



Jogral: A atividade do jogral desdobrava-se em múltiplas funções que, com o objetivo de recrear um público, combinavam os jogos histriónicos, o acompanhamento musical, a interpretação de composições alheias ou próprias, a declamação de narrativas épicas, etc. A importância do jogral enquanto meio de transmissão cultural, entre comunidades e entre gerações, deve ser enfatizada tendo em conta o peso da oralidade sobre a escrita no ocidente medieval.



Menestral: Era, no século XIII, um músico-poeta (por vezes confundia-se com o jogral, só que vivia sob a proteção de um nobre e andava de corte em corte).



Segrel: Cavaleiro-trovador que andava de corte em corte (era da baixa estirpe e fazia-se acompanhar de um jogral ou substituía-o). Na poesia trovadoresca galego-portuguesa, a função do segrel aproxima-se da do jogral, visto que, além de executante e de cantor, sabia compor cantigas.



Soldadeira ou Jogralesca: Cantadeira ou dançarina, a soldo, que acompanhava o jogral (era, muitas vezes, de moral duvidosa).



Trovador Compositor:(quase sempre fidalgo) da poesia e da música.






PROCESSOS FORMAIS DE VERSIFICAÇÃO DA POESIA TROVADORESCA GALEGO-PORTUGUESA



Atafinda: ou atá-finda: Processo poético que consiste em levar o pensamento, ininterruptamente, até ao fim da cantiga, usando para isso o processo de encavalgamento na articulação das estrofes. 



Cobla, copla, cobra: Estrofe 



Coblas alternas: O esquema rimático alterna, segundo o modelo I-III, II-IV. 



Coblas capcaudadas: O primeiro verso de uma estrofe retoma a rima do último verso da estrofe 
anterior.




Coblas capdenals: Repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no início do mesmo verso em estrofes sucessivas (pode incluir a finda).



 Coblas capfinidas: O primeiro verso de uma estrofe retoma uma palavra do último verso da estrofe antecedente (se a cantiga for de refrão, estará no refrão). 



Coblas doblas ou pareadas: O mesmo esquema rimático se repete de duas em duas, segundo o modelo I-II, III-IV. 



Coblas singulares: As rimas mudam de estrofe para estrofe. 



Coblas uníssonas: A mesma série de rimas em todas as estrofes. 



Dobre: Prova de virtuosismo formal que consistia na repetição vocabular simétrica em que a palavra repetida poderia estar no início, no interior ou no final do verso, mas que a disposição escolhida para a primeira estrofe tinha de ser a mesma em todas as estrofes; e a palavra repetida podia ser diferente de estrofe para estrofe. 



Encavalgamento ou transporte: Processo poético que consiste em completar a ideia de um verso no verso seguinte, não coincidindo, portanto, a pausa métrica com a pausa sintática. 



Finda: Estrofe curta (geralmente constituída por três versos) que serve de remate e em que o poeta sintetiza o assunto da composição. 


Leixa-prém: Traduzido à letra: deixa-toma. É o procedimento formal necessário para a cantiga paralelística perfeita. Consiste no seguinte: o 2º verso da 1ª estrofe repete-se no 1º verso da estrofe alternada ao longo de toda a cantiga. 



Mozdobre ou mordobre: A definição é feita a partir do dobre: a única distinção é que, no mozdobre, a palavra repetida aparece em formas diversas (coincide às vezes com a rima derivada). 



Palavra perduda ou verso perdudo: Verso inserido no corpo da estrofe que não rimava com nenhum dos outros da mesma estrofe (prova de mestria).



 Palavra-rima: Utilização da mesma palavra em posição de rima (confunde-se às vezes com o dobre). 



Paralelismo: O paralelismo constitui uma das características estruturais da lírica galego-portuguesa, consistindo na repetição simétrica de palavras, estruturas rítmico-métricas ou conteúdos semânticos.



Paralelismo imperfeito: Acontece quando o esquema do leixa-prém não se repete rigorosamente. 



Paralelismo perfeito ou puro: Uso do leixa-prém. 



Paralelismo semântico ou conceptual: Repetição de figuras de retórica; repetição, por outras palavras, daquilo que se disse na primeira estrofe. O paralelismo conceptual recusa a repetição do leixa-prém ou a simples variação sinonímica. 



Paralelismo sintático ou estrutural: Repetição de uma determinada construção sintática e rítmica. O poeta podia obter a variação mediante três processos: - substituição da palavra rimante por um sinónimo; - transposição das palavras (alteração da ordem); - repetição do conceito mediante a negação do conceito oposto. 



Paralelismo verbal, literal ou de palavra: Repetição (no mesmo lugar) de palavras, expressões ou versos inteiros, na cantiga, quer siga ou não o leixa-prém. Pode ocorrer também o paralelismo verbal com substituição sinonímica (embora formalmente diferente, é semanticamente igual). O paralelismo verbal arrasta consigo uma certa monotonia evitada se recorrerem à variação (que pressupõe uma certa progressão no pensamento). 



Rima derivada:Emprego de formas diversas da mesma palavra em posição de rima (confunde-se, às vezes, com o mozdobre).



 Rima equívoca: Repetir a mesma palavra dando-lhe significações diferentes (confunde-se às vezes com o dobre).





FONTE: http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/poesia_trovadoresca.pdf

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A Idade Média,na Europa e em Portugal

A Idade Média é um período da história da Europa entre os séc. V e XV. Subsequente à queda do Império Romano do Ocidente à mão dos invasores "bárbaros".

 Esta época foi posteriormente considerada como uma "longa noite de dez séculos" pelos intelectuais do Renascimento europeu, e "reabilitada" no séc. XIX pelos Românticos, que nela viam, sobretudo, uma época de afirmação das pátrias, línguas, literaturas, culturas e "identidades" dos diversos povos europeus.

No que respeita à língua, a Idade Média assistiu à substituição do latim,língua oficial de todo o Império Romano, pelas diferentes línguas nacionais, de origem latina, como o português,o castelhano, o catalão, o francês, o provençal, ou de origem não latina, como as línguas germânicas os eslavas.

A par dos senhores, e como classe que possuía grandes riquezas e poder,destacava-se o clero cristão.
 Quando ao poder político da Igreja e do clero,ele foi diminuindo gradualmente à medida que se afirmava o dos senhores e dos estados.

 Uma outra razão da importância execional do clero na Idade Média esteve no facto de nos seus membros residir todo o saber medieval. Ao clero devemos a manutenção de algum do saber antigo (de gregos e romanos) e uma importante ação no domínio da educação e do ensino, bem como na difusão cultural (cópia de manuscritos,organização de importantes bibliotecas)  

Tudo se subordinava à ideia de que Deus era a "medida de todas a coisas",e, como tal, para Ele deveria convergir a atenção dos homens. Por isso se diz que a Idade Média foi uma época teocêntrica, Deste teocentrismo encontramos marcas na vida medieval, a todos os níveis:



  • Político:  
           - construção de estados e de sociedades estratificadas em               classes, profundamente hierarquizadas, à semelhança da               hierarquia, em pirâmide, na Igreja Romana;

           - poder real do Papa sobre os próprios estados europeus                (lembramos que D. Afonso Henriques só pode descansar               quando obteve, mediante a promessa de pagamento de                 um imposto anual ao Papa, o seu reconhecimento como               rei de Portugal);

           - no incremento e incentivo às guerras de religião                            (Cruzadas);



  •  Cultural e artístico:

            - monopólio na educação e no ensino;
            - na filosofia: a filosofia era Patrística ou filosofia dos Padres e Doutores da Igreja, como                       Santo Agostinho ou S. Tomás de Aquino; 

            - na arquitetura: da Idade Média ficaram-nos os castelos e fortes militares (para defesa, nas                   guerras) e catedrais verticalmente erguidas para Deus;

            - na pintura: o que se representava em frescos, ícones, vitrais, iluminuras ou mosaicos eram                   cenas relacionadas com Escrituras e a vida dos santos,a par das cenas alegóricas;

            - nas artes ditas menores: arte sacra, ourivesaria, paramentos, iluminuras (livros de Horas, de                 missais e outros livos e códices).



  • Na vida quotidiana:

             - aceitação do sofrimento, do trabalho duro e mal remunerado, da doença, das privações,                        como instrumentos de purificação e salvação da alma; reforço de uma moral restritiva dos                    impulsos,no domínio, sobretudo, da sexualidade; repressão a membros simpatizantes de                      doutrinas e práticas heterodoxas (heresia, feitiçaria); valorização da morte em combates pela                Fé;

             





                                        FONTE: PAIS, Amélia Pinto, 2004, História da Literatura em Portugal


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Objetivos de webfólio


 O webfólio é um instrumento virtual de aprendizagem e de avaliação continuada. Através desta estratégia que incentiva e organiza a criação de blogs pessoais, os alunos são levados a prosseguir a discussão iniciada em sala de aula e a procurar novas referências de estudo, aprofundando suas reflexões, trocando ideias, partilhando sugestões e estabelecendo críticas ao conteúdo da disciplina. Deste modo, ao funcionar como uma central virtual de portfólios académicos, o webfólio se apresenta como uma alternativa didático-pedagógica a EaD (Educação a Distância).

  Objetivo do webfólio é criar um ambiente virtual que funciona como uma central de blogs académicos para promover um processo de auto-avaliação continuada através da criação e manutenção de portfólios virtuais. Com essa iniciativa, acreditamos contribuir para a criação de um instrumento de trabalho onde professores e alunos trocam aprendizagens e, assim, deixam de ser indivíduos meramente passivos para se tornarem participantes ativos de sua própria educação.


Fonte: http://intercom.org.br/papers/nacionais/2008/expocom/EXP-3-1103-1.pdf

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Conceito de Portfólio

O que é Portfólio:
 
 
  Portefólio é uma  coleção de trabalhos já realizados de uma empresa ou de um profissional.
  O portfolio é um termo vindo do inglês e tem uma grande importância para profissionais com a necessidade de mostrar o seu currículo. O portfólio agrega valor para o individuo e normalmente é iniciado durante a vida académica.


Fonte: http://www.significados.com.br/portfolio/

sábado, 3 de outubro de 2015

Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que te traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos  . 
  
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,

talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste de muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!


Olha-queres ouvir-me -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz;
              Era uma vez uma princesa
           no meio de um laranjal...

Mas- tu sabes- a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu.
Eu sai da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosa.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade. in "Os Amantes Sem Dinheiro"


   

Texto de Apresentação

Olá. Eu sou a Beatriz. Estudo na escola secundária D. Manuel I, em Beja, e estou no curso de Línguas e Humanidades. Tenho um irmão mais novo, o Rafael. Gostava de seguir jornalismo um dia, mas quando acabar o secundário adoraria viajar pelo mundo, Adoro escrever e inclusive tenho uma pequena pagina na Internet onde publico alguns dos meus textos. Tenho uma pequena paixão por leitura e um grande amor por literatura inglesa.