Inês Pereira
, era uma rapariga com uma ambição desmedida de subir na vida . Cansada
da vida que levava , sempre a executar tarefas domésticas , Inês Pereira , vê o
casamento como a sua única salvação. Na sua cabeça idealiza o companheiro
perfeito : alguém que lhe possa dar uma vida feliz e sem preocupações . A
mãe tenta convencer Inês de que esta não se deve precipitar na decisão pois ,
estas coisas devem ser feita com calma . Dizendo-lhe que quando esta menos
esperar eis que aparece um bom partido .
É contada
uma história de assédio a Lianor Vaz . Quando esta estava a caminho da casa de
Inês , um rapaz quis agarrá-la . Lianor conta que a sua sorte foi ter aparecido
um almocreve . Inês afirma que esta se devia ter defendido , tentando atingi-lo
fisicamente . Lianor indignada , diz a Inês que não o poderia fazer . Pois ,
seria como cometer um pecado . E a sua penitencia seria a excomunhão ( expulsão
da igreja ) .
Lionor Vaz
diz haver alguém interessado em Inês : Pêro Marques . Inês deseja um marido com
boas maneiras , até pode ser pobre . Ao menos tem de se saber comportar .
Lianor entrega então uma carta de Pêro Marques a Inês . Nesse escrito , Pêro
Marques expõe os seus sentimentos .
Inês ficou
com má impressão do pretendente . Inês imaginou como este seria , para ela um
reles , uma pessoa pobre sem bens materiais . Decide mandar chamar Pêro
Marques , somente com a intenção de se rir na sua cara . Assim o fez .
Lianor tenta
avisar Inês , dizendo-lhe que esta pode ser uma oportunidade única . E que , o
que sustenta uma relação , é o dinheiro e não o amor . O que realmente
interessa é que este senhor tenha posses para dar a Inês uma vida descansada e
feliz , não tendo esta que trabalhar para se sustentar , somente assumir os
papéis de uma governanta da casa .
Realiza-se o
encontro . Pêro Marques revela-se uma pessoa pouco interessante . Mostrando-se
de um coração imenso , Pêro Marques , leva oferendas provenientes das
suas terras . Mas por erro , na altura em que as vai entregar , percebe que as
havia perdido no caminho . Portanto , um mau começo .
Apesar de
ter como sustentar Inês , Pêro não era do seu agrado . Aborrecida com a
situação , Inês Pereira , pede-lhe que nunca mais a volte a visitar .
Pêro demonstra sentir algo muito forte por Inês mas esta não hesita em repensar
na sua atitude . Um sentimento tão forte , causador de um presumível
desgosto fatal . Pêro lamenta-se pela personalidade das mulheres , dizendo que
a estas nada as satisfaz .
Espantada
por uma enorme falta de saber estar por parte de uma pessoa , Inês, volta a
repetir que prefere feio e pobre do que um homem sem maneiras .
Desesperada
por ver a filha não encontrar o marido que idealizava em sua cabeça , a
mãe de Inês , encarrega dois judeus de encontrar o marido ideal para Inês
. Estes tentam encontrar alguém de uma boa classe social mas sem êxito . Depois
de uma longa procura , os dois judeus encontram então , um escudeiro . Este de
imediato mostrou-se interessado em Inês. Dois judeus donos de uma enorme
esperteza ; retrataram Inês como : “ a deusa da perfeição e a rainha de
todas as virtudes . “
O escudeiro
planeia com o seu vassalo , mentir sobre a sua condição social de forma a
garantir o casamento .
Inês diz que
não casa por influência de ninguém , nem da sua própria mãe . Pois , é a
sua vida que está em causa . Encantada pelo requinte do escudeiro , Inês pensa
ter encontrado quem tanto procurava . Ficou então , noiva do escudeiro .
Rapidamente começaram os preparativos para a cerimónia : o casamento . A mãe de
Inês concede-lhe a sua casa para estes morarem e parte .
A pouca
liberdade que Inês possuía é-lhe retirada pelo marido : o escudeiro . Esta além
de não deixar de ser o que tanto lhe custava , passa a ser
somente propriedade do marido e é este quem define as regras . A ele Inês deve
obediência . O escudeiro queria precaver-se para nada nem ninguém tirar Inês dos
seus braços . O escudeiro não tinha dinheiro para se sustentar .
Inês Pereira
vivia como “ prisioneira “ dentro da sua própria casa . O seu marido parte para
combater e esta fica a ser vigiada pelo seu “ capataz “ .
Inês vive um
tormento . Deseja ficar viúva , pois , seria a única forma de acordar
deste enorme pesadelo que se haveria tornado a sua vida .
O escudeiro
morre em combate . Lianor aconselha Inês a casar-se novamente . Apesar de Inês
estar aliviada por o seu pesadelo ter findado , lamenta o sucedido . Pois , apesar
de tudo , da forma como o escudeiro tratava Inês , este era dono de muitas
virtudes , as quais o destacavam da maioria dos comuns ,
Inês acaba
por ficar prometida a casamento a Pêro , o que anteriormente tinha
rejeitado . Agora este , por herança , tinha-se tornando homem de algumas
posses , podemos chamar-lhe de “ camponês rico . “
Ao contrário
do escudeiro , Pêro Marques não quer controlar a vida de Inês . Apenas deseja
que esta seja feliz .
Um pobre
ermitão vai pedir esmola e consegue comover Inês. Faz-se passar por um
falso padre . Inês reconhece-o .Pois , tinha sido um seu antigo namorado . Este
afirma estar naquele estado devido ao desgosto amoroso que Inês lhe causou .
Inês e o ermitão combinam então um encontro , designando o local como a ermida
. Inês consegue convencer o marido a levá-la à ermida , mostrando-se
devota . Na verdade , o seu objetivo era encontrar-se com o falso padre . Com
receio de atravessar um obstáculo : o rio , Inês , pede ao seu marido que a
leve às costas . No caminho Inês canta uma canção . Esta canção
alude à sua infidelidade com o marido e a ingenuidade deste por não se
aperceber da situação . Pêro acaba por terminar o refrão da canção , não tendo
noção que se estava a comportar como um marido enganado .
Conclusão :
E parece que
Inês não aprendeu a lição . Primariamente , foi mal tratada por o seu marido ,
parecia mostrar-se arrependida mas na verdade era uma farsa .
Pêro tinha
tudo para a fazer feliz . Inês, apenas não soube dar valor .
Gil Vicente
, mostra-se uma pessoa muito atenta à realidade . Esta cena alude a histórias
verídicas do nosso dia a dia.
Será que
Pêro não percebeu ou não quis perceber ?
Esta peça
visa criticar a sociedade do tempo de Gil Vicente , nomeadamente os seus vícios
. Gil Vicente consegue isto através do recurso à ironia, ao facto de ter criado
personagens tipo e também de ter recorrido ao uso do cómico.
Caracterização das personagens :
As
personagens que figuram na peça são personagens tipo pois , estas representam
uma classe social . Temos então a representação da moça casadoura , através de
Inês ; O escudeiro fanfarrão, encarnado por o Escudeiro ; O labrador simplório,
representado por Pêro Marques ; e por fim , a alcoviteira, representada por
Lianor Vaz.
Inês Pereira
: através
da descrição indirecta podemos concluir que Inês era uma donzela esbelta . Dona
de uma grande ambição , sonhava subir na vida .
Exs.: "
Parece moça de bem "
" Mui graciosa donzela "
" vossa fermosura "
A mãe de
Inês : retrata
a típica mãe . Aquela que quer sempre o melhor para a sua filha e que quer que
esta seja um exemplo para as outras raparigas . Também lhe quer garantir
um bom Futuro .
Exs.: "
Inês, guar'-te de rascão ! " ( evidencia a preocupação com a sua filha )
" que
lhe tenhais muito amor " ( a mãe de Inês evidencia uma preocupação com o
futuro estado da filha pois, a vida desta haveria tomado um novo rumo )
Lianor : casamenteira e
interesseira. Uma mulher independente, apenas lhe
convinha a sua opinião.
Exs.: "
Eu vos trago um casamento " ( casamenteira )
" Eu vos trago um bom marido " (
casamenteira )
Pêro Marques
: apesar
de possuir inúmeros bens , assume-se como um camponês ingénuo , sem boas
maneiras de estar .
Exs.:“
rico, honrado “
“ eu em meu siso estou “
“ João das bestas homem de bom recado “
Escudeiro (
Brás da Mata ) : Esta
personagem representa a nobreza falida . Gostava de se enaltecer, quando na
verdade nem tinha dinheiro para se sustentar. Mostra-se , ainda , uma pessoa de
boas maneiras . Controlador , no caso da sua esposa . Uma pessoa que
conseguia dominar os mais fracos , como por exemplo , o seu domínio total sobre
o moço , seu criado . Pois , este acredita em tudo o que o seu patrão lhe
conta. O escudeiro revela-se portanto , uma pessoa bastante convincente .
.
Exs.:
“ Homem que não tem nem preto “ ( expõe a sua
situação económica )
" E se me vires mentir / gabando-me de
privado " ( mostra que o escudeiro queria manter intacta a sua imagem ,
contrária ao que realmente era )
" faze-o por amor de mi " -
Mentir sobre a sua situação económica . ( o escudeiro sabendo que o seu
criado era fiel e que sendo uma pessoa honesta numa o iria trair , convencia-o
com simples palavras )
“ um homem avisado “ ( bem formado em termos de
educação )
" homem de descrição " ( sabe como
se comportar )
“ Estareis aqui encerrada/nesta casa, tão
fechada/ como freira de Odivelas “ ( controlo do escudeiro
sobre Inês , agora sua mulher )
Latão e
Vidal ( os dois judeus ) : Mostram-se como dois Judeus espertos e hábeis no comércio .
" Nunca vi judeus ferreiros
aturar tão bem a frágoa " ( a mãe de Inês mostra-se satisfeita
com o bom trabalho por eles realizado )
Moço : revela-se como sendo uma
pessoa humilde . Porém , influenciável . Pois , acredita nas mentiras que o seu
patrão ( o escudeiro ) lhe conta . Assim o escudeiro consegue-o explorar .
Ermitão : um falso padre . Representa a decadência de valores morais por
parte de membros eclesiásticos . Por exemplo, aceita um encontro amoroso
com Inês , mesmo sendo contra os seus princípios como membro do
clero.
Tempo da ação: não há indicação do tempo em que decorre a ação. Devido à sequência
das cenas constituintes na peça, não é possível termos uma ideia de tempo, o
tempo decorrido de espaçamento entre cenas. Exceto numa cena. Vicente apenas
menciona nesta obra um tempo exato: aquando da morte do Escudeiro. O escudeiro
terá partido para combate e terá sido fatalmente atingido. A sua esposa, Inês
Pereira, agora viúva, só toma conhecimento disto três meses depois. Pois, todas
as cenas aparecem encadeadas, formando um todo coeso.
Espaço da ação: A maior parte das cenas é passada num lugar específico: a casa da mãe
de Inês. Que Inês terá herdado após o seu matrimónio. No decorrer da ação a
casa de Inês torna-se um local de passagem de todas as personagens.
Explicando o provérbio que serve de introdução á cena : “ Mais vale
asno que me leve que cavalo que me derrube. “
O cavalo simboliza o primeiro marido
de Inês, o Escudeiro . Este com sua agressividade e autoritarismo
acaba por derrubá-la . Pois , mostra-se muito diferente do que aparentava ser .
Ou seja Inês ao tornar-se mulher do Escudeiro tornou-se dependente deste então
, era este quem definia as regras. Proibiu-a de qualquer tipo de liberdade.
Pêro Marques é o asno que a leva e faz todas as suas vontades.
Tipos de cómico apresentados na peça :
Cómico de carácter: Como por exemplo, a personalidade de
Pêro Marques (quando este no primeiro encontro com Inês se atrapalha perante
ela e a sua mãe , mostrando-se um camponês bronco e tolo) . Outro exemplo, é a posição que escudeiro
mantém sempre. Este quer aparentar ser o que não é , mostrando uma
luxúria ilusória. Apesar de ser pobre e cobarde mantém o seu discurso sempre
com muita elegância, fingido que está tudo bem em suas vidas para isto recorre
a toque de instrumentos e ao cante. Tenta revelar-se valente , não tendo
fraquezas e misérias.
·
Cómico de situação: Por exemplo , quando Pêro Marques ,
no encontro com Inês , se senta na cadeira de costas para Inês e sua mãe . No
diálogo entre os dois judeus , encarregues de encontrar o marido idealizado por
Inês. Estes ansiosos por realizarem o casamento de Inês com o Escudeiro
atrapalham-se a conversar: interrompem-se um ao outro e repetem coisas já ditas
anteriormente, mostrando um certo nervosismo.
No último ato , no desfecho da cena ,
quando Pêro Marques , agora marido de Inês a transporta em suas costas e
ingénuo acaba por terminar o refrão de uma canção que contém o que a sua mulher
( Inês ) anda a fazer. Este mostra-se ingénuo por não perceber .
Cómico de linguagem: Por exemplo , na cena em que Pêro
Marques visita Inês no desejo de realizar um bom casamento e , o seu discurso
contém termos e expressões de um simples camponês , de um homem pouco
instruído.
Também, na cena em que os dois Judeus
ansiosos por unir matrimónio entre Inês
e o Escudeiro, tentam convencer ambos de que esta é uma boa oportunidade
e acabam por se atrapalhar na conversa ; havendo , um discurso repetitivo pois
, estes encontravam-se nervosos e também longo.
Também , podemos encontrar o cómico
de linguagem quando Inês diz : “ Ei-lo
se vem penteado/ será com um ancinho ? “ Inês “goza” com a forma de ser de Pêro
. Também , na ironia do moço ( vassalo do escudeiro ) revela através da ironia
a verdadeira condição social do seu patrão , evidenciando-o nada mais , nada
menos que um pelintra. E ainda ,diálogo
entre Pêro e a mãe de Inês , quando Pêro Marques diz que seu é o “ mor gado “ e
, a mãe de Inês entende que este seja morgado. Não sendo este herdeiro de todos
os bens por ser o irmão mais velho mas sim , quem tratava de animais , era
disto que ganhava o seu sustento.